O Rock and Roll de Patti Smith e a ingenuidade de Banksy
Passo a passo, a banda desenhada deixa de ser coisa de crianças. Para isso, mudou o nome, afastou-se das vozes da infância e assumiu-se como “Novela Gráfica”.
As editoras assumem o arrojo e publicam novelas gráficas a pensar num público adulto e sem preconceitos. É o caso da Iguana, chancela da Penguin Random House.
Os primeiros títulos publicados desta nova editora são “Patti Smith. She has the power”, de Ana Müshell, e “O Seu Nome É Banksy”, de Francesco Matteuzzi e Marco Maraggi. Os méritos são distintos.
Sobre Banksy, a dupla de autores optou por cores saturadas e “close ups” constantes, sem mostrar as obras de Banksy (fica a pergunta sobre a razão de isto acontecer).
Há nuances de realismo mágico, com mais importância decorativa do que influência na narrativa. E é na narrativa, ou melhor, na parte da prosa, que reside a fraqueza deste livro. É ingénua, por vezes preguiçosa, e não acompanha a maior qualidade das ilustrações.
A espinha dorsal da história é desenhada pela relação entre dois marginais condenados a trabalho comunitário (pintar de fresco paredes “sujas” com arte de rua) por terem sido apanhados a grafitar. A conversa entre os dois serve de “leitmotiv” ao ensaio sobre Banksy e a arte de rua.
Bem diferente é “Patti Smith. She has the power”. Ana Müshell declara os seus motivos: o livro é um tributo.
Em comparação, o texto tem mais importância e as ilustrações complementam, em vários momentos, a prosa. Müshell optou por imagens desafogadas, quase sempre a preto e branco, de plano único e com incidência no pormenor.
A autora dirige-se directamente ao leitor, informalmente, e incentiva-o a participar na homenagem. Há risco e inventividade na estrutura narrativa, aproveitando a elasticidade da narrativa gráfica.
“Patti Smith. She has the power” é um acto de amor que tanto pode ser compartilhado com fãs como apresentado aos que pouco conhecem a artista.
É o avesso de Banksy; só falta ter banda sonora (aliás, a autora propõe a audição de determinadas canções em certos capítulos).
Francesco Matteuzzi e Marco Maraggi não mostram o autor (uma impossibilidade) nem obra; Ana Müshell vai mais fundo, faz da sua paixão força motriz e não deixa à adivinha os factos mais importantes da vida de Patti Smith.
Méritos assimétricos nestas duas obras.
Se o leitor só tem orçamento para um livro, Patti Smith é a aposta segura.
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