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Shot #36 "O Colibri", de Sandro Veronesi

 




Diz-se que a história não interessa; a importância está na forma como é contada. Mas porque será que uma é mais importante do que a outra? 

A partir de certo momento, a história começou a ser vista como coisa de crianças. Um livro com história é um livro de histórias e pouco mais. Ora, isso está longe de ser verdade.

O que se passa em “O Colibri” (Quetzal) é que Sandro Veronesi (Florença, 1959) concilia o que tentam dividir. O potencial da história é concretizado quando se encontra a melhor forma de a contar.

Veronesi utiliza várias estratégias: O discurso indirecto, diálogos telefónicos, SMS trocadas e epístolas são escolhas que funcionam num todo que, de ligação, tem a história.

O leitor não entra com a porta escancarada e ampla visão do que vai acontecer. Terá de fazer um esforço para acompanhar a vivência de Marco Carrera que, por um crescimento abaixo do percentil, é apelidado de “Colibri”. Mas valerá a pena ultrapassar esta exigência.

Marco é um oftalmologista que, como tantas vezes acontece, é motivado a recordar a sua vida após um acontecimento limite.

A partir daí, recorda o seu amor de juventude, a sua filha, neta, esposa, pais, amigos e desenha as ligações e dinâmicas entre todos. 

Nada de novo, mas aqui entra a forma como se conta, aqui entra a capacidade de o autor utilizar as estratégias narrativas que tem ao seu alcance.

Tudo começa a fazer sentido ao longo da leitura e acaba com brilhantismo, quando num golpe de asa Veronesi concentra em algumas perguntas a vida de Marco Carrera .

A coerência é um dos méritos deste livro; as ligações entre personagens e as respectivas dinâmicas são expostas com mestria.

No fim, o leitor percebe que as células comunicam entre si e aquilo que parecia esparso é, afinal, um organismo inteiro.

“O Colibri”, agraciado com o Prémio Strega, é uma história comovente e muito bem contada. É um triunfo literário.  














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