“Dicionário de Artistas” (Relógio d`Água) é uma colectânea de textos escritos para o Centro Cultural de Belém e tem a arte contemporânea como ponto de partida.
São 75 textos sobre autores contemporâneos, são 75 peças que saem de obras e especulam para além delas.
“Em Dicionários de Artistas” a subjetividade não consta e a materialidade dos vocábulos mobilam cada página. São vocábulos que remetem para objectos e que se deixam agarrar. Gonçalo M Tavares impõe rigor matemático numa literatura táctil.
“As letras são assim trajectos éticos: avanços, perversos ou não, de uma linha através do espaço. E quando essa escultura de sentido – que é a linguagem- surge nos sítios imprevistos, no meio de coisas que não falam, a força muscular de uma frase torna-se quase perigosa; um simples substantivo –aliado a um verbo- pode acertar numa pessoa como um soco.”
É um universo de fragmentos, de ligações menos óbvias, mantendo cada página um organismo independente. Isto radicaliza a relação entre livro e leitor. A primeira página deixa de ser a porta de entrada, a última não é a porta de saída. A orientação da leitura é mais aberta e plural.
Nesta coabitação entre materialidade e vocábulo, a arte contemporânea e a literatura cruzam-se.
“Dicionário de Artistas” incorpora tecnologias e a vanguarda da arte contemporânea num formato que, apesar das literaturas de vanguarda, mantém uma mão agarrada à tradição.
Na linguagem de Gonçalo M Tavares, a palavra não é o único centro. As fotografias, as obras de artes plásticas e o preciso mecanismo científico competem e interseccionam-se com a palavra.
No princípio está o verbo e a imagem e a ciência. Nesta conjugação reside um dos muitos méritos do autor.
“Um texto tem cabeça e é com ela que o texto pensa.”
O texto rebela-se e não vai ao encontro do esperado pelo leitor, pelo menos do leitor incauto. A reformatação causa estranheza e não permite a imediata identificação de lógica. Por outras palavras, exige ao leitor que cresça e que observe o signo em suas declinações.
“E a inteligência transforma: é uma máquina de inquietação, o cérebro. Para alguns, porém, é apenas uma máquina de continuar quieto. Um modo repetido de olhar para o mundo quando ainda não se adormeceu.”
A postura perante o texto é idêntica à postura defronte de uma pintura:
- Por onde se começa a ver? Como se disciplina o olhar?
É deixar guiar-se por uma luz que vale por uma geração de escritores. Gonçalo M Tavares tem um brilho próprio, um brilho que ilumina o que nem sabíamos que existia.
ISBN: 9789897831645
Edição/Reimpressão: 12-2021
Editor: Relógio d`Água
Dimensões: 138x218x10 mm
Encadernação: Capa mole
Páginas: 168
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