Um livro de narrativas curtas implica,
tantas vezes, temática assimétrica dentro de um tom com muitas variações.
“Desoras” (Cavalo de Ferro) reúne oito contos muito diferentes entre si, tanto
na estrutura como no tom. Cortázar parece divertir-se nos desafios a que se
propôs e dos quais sai pela porta da frente, sabendo da mestria empregada na
resolução.
Somos levados tantas vezes por ritmos
oníricos até finais abertos. Há inquietação (“Fim de Etapa” e “Pesadelos” são
soberbos), rasgo do previsível encadear dos acontecimentos (“A Escola à
Noite”) ou mesmo uma desconstrução de um conto, como em “Diário Para Um Conto”.
Nesta narrativa que fecha o livro, o narrador tem a intenção de contar a
história de uma prostituta chamada Anabel, mas acaba por se refletir na
“pré-produção” dessa narrativa. Querendo contá-la, acaba por se desnudar.
São oito assoalhadas num confinamento
benquisto. Oito momentos escritos a desoras, fora do tempo, fora do previsível,
mas inscritos na melhor literatura.
Na Argentina, terra dos melhores
jogadores de futebol do mundo, nasceram jogadores que não deveriam
envelhecer nem morrer, pois gostaríamos de os eternamente num relvado. O mesmo
deveria acontecer com os escritores. Julio Cortázar, falecido em 1984, deveria
respirar para sempre, escrever para sempre. E, no entanto, não deixa de
continuar entre nós, pois inquieta-nos com as suas histórias e a mestria ao
contá-las.
É o último livro de contos, até agora
inédito em Portugal, do escritor argentino. Nunca deveríamos dizer que há um
último livro de um escritor como Cortázar.
- AUTOR
- COLEÇÃO
- ISBN 9789896686994
- PVP 15.49 € (IVA incluído)
- preço livre
- 1ª EDIÇÃO novembro de 2019
- EDIÇÃO ATUAL 1.ª
- PÁGINAS 176
- APRESENTAÇÃO capa mole
- DIMENSÕES 150x225x13,2 mm
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