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Shot #27: " Desoras", de Julio Cortázar

 



Um livro de narrativas curtas implica, tantas vezes, temática assimétrica dentro de um tom com muitas variações. “Desoras” (Cavalo de Ferro) reúne oito contos muito diferentes entre si, tanto na estrutura como no tom. Cortázar parece divertir-se nos desafios a que se propôs e dos quais sai pela porta da frente, sabendo da mestria empregada na resolução.

Somos levados tantas vezes por ritmos oníricos até finais abertos. Há inquietação (“Fim de Etapa” e “Pesadelos” são soberbos), rasgo do previsível encadear dos acontecimentos (“A Escola à Noite”) ou mesmo uma desconstrução de um conto, como em “Diário Para Um Conto”. Nesta narrativa que fecha o livro, o narrador tem a intenção de contar a história de uma prostituta chamada Anabel, mas acaba por se refletir na “pré-produção” dessa narrativa. Querendo contá-la, acaba por se desnudar.

São oito assoalhadas num confinamento benquisto. Oito momentos escritos a desoras, fora do tempo, fora do previsível, mas inscritos na melhor literatura.

Na Argentina, terra dos melhores jogadores de futebol do mundo, nasceram jogadores que não deveriam envelhecer nem morrer, pois gostaríamos de os eternamente num relvado. O mesmo deveria acontecer com os escritores. Julio Cortázar, falecido em 1984, deveria respirar para sempre, escrever para sempre. E, no entanto, não deixa de continuar entre nós, pois inquieta-nos com as suas histórias e a mestria ao contá-las. 

É o último livro de contos, até agora inédito em Portugal, do escritor argentino. Nunca deveríamos dizer que há um último livro de um escritor como Cortázar.




  • AUTOR 
  • COLEÇÃO 
  • ISBN 9789896686994
  • PVP 15.49 € (IVA incluído)
  • preço livre
  • 1ª EDIÇÃO novembro de 2019
  • EDIÇÃO ATUAL 1.ª
  • PÁGINAS 176
  • APRESENTAÇÃO capa mole
  • DIMENSÕES 150x225x13,2 mm





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1 Comentários

Carlos Faria disse…
Dele só li Rayuela, que gostei muito, mas penso que deveria voltar a ele.