Tropel, título e vocábulo repetido na prosa deste romance, adequa-se ao propósito do tema, mas não à qualidade da escrita de Manuel Jorge Marmelo. Existe um cuidado com a linguagem própria de quem acarinha o ritmo das frases e presta atenção ao uso de cada palavra. A toada é fluída, plena de sensibilidade, o que acentua o ruído e confusão ideológica das personagens que habitam o romance.
Manuel Jorge Marmelo já provou nas suas crónicas, romances e contos a qualidade da sua escrita, já se fez notar como um dos romancistas contemporâneos portugueses a ter em conta. Dentro dessa constância, Tropel é distinto, pois afirma-se com um dos melhores trabalhos do autor nascido no Porto.
Atanas Viktor aprende a caçar com o seu pai que, por sua vez, passa os ensinamentos aprendidos com o avô de Atanaz. Procuram caça grossa e procuram matar imigrantes que entram no país. Pertencem ao Clube dos Caçadores de Székely, um exponenciado grupo “Proud Boys” em busca da purificação do território. Mas a violência não é só da porta para fora. É constante, familiar e subversiva. É um tropel de acontecimentos ostensivos e subliminares de violação física e emocional.
Passa-se longe do Porto e de Lisboa, mas é uma acção cada vez mais próxima.
A ficção tem esta capacidade: aproxima-se o mais possível do realismo para, com um ligeiro desvio, mostrar a essência do que nos rodeia.
Quando um bom artífice explora esta possibilidade através do trabalho de linguagem, o leitor usufrui de livros como “Tropel” e das capacidades narrativas de autores como Manuel Jorge Marmelo.
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