Quando é bom, queremos repetir. Seja da mesma forma, ou reinventado. É o que se passa com um livro. Depois do texto, vem uma série, um filme ou mesmo uma novela gráfica. A interrogação surge de seguida:
Será que respeita o original?
José Pablo García ilustrou as palavras de Javier Cercas escritas em “Soldados de Salamina”. Mais do que respeitar, o trabalho de García é uma homenagem à qualidade do romance publicado em 2001.
Revivemos a prosa de Cercas nas ilustrações desta novela gráfica. O ilustrador não arrisca. Mantém-se fiel ao original e consegue com excelência ilustrar a imaginação do leitor. Reconhecemos Cercas no livro e conhecemos as personagens que têm morado nas páginas do autor nascido em Ibahernando, decorria o ano de 1962.
Mazas, o poeta, tem agora um corpo. O fundador da Falange e posterior ministro de Franco conseguiu fugir a um fuzilamento perto da fronteira franco-espanhola e refugiar-se no bosque. A ajuda de um soldado republicano foi essencial para a sobrevivência. Sessenta anos mais tarde, Cercas resgata a história do esquecimento e escreve o seu livro com mais vendas até ao momento: mais de um milhão de exemplares.
José Pablo García tinha 19 anos quando “Soldados de Salamina” foi disponibilizado aos leitores. E é 19 anos depois de o livro ter saído que publica a sua interpretação.
A importância de uma obra é potenciada pela contínua aceitação dos leitores, pelo estudo académico e pela constante reinvenção do formato. É o que tem acontecido com “Soldados de Salamina”.
O encontro de dois talentos de diferentes gerações resultou neste livro editado pela Porto Editora.
Em epígrafe podemos ler:
“Os deuses ocultam o que faz viver os homens” (Hesíodo, “Os Trabalhos e os Dias”)
José Pablo García e Javier Cercas revelam o que está oculto nesse “ponto cego”.
É uma obra que os admiradores de Cercas não irão querer perder, ou uma via para quem ainda não conhece a escrita de Cercas. Em ambos os casos, uma excelente aposta de leitura.
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