Julian Barnes discorre
ao longo de “Nada a Temer” vivências e ideias sobre aspectos quintessenciais,
destilados ao longo de várias gerações familiares.
Na banalidade quotidiana
de uma família ou de um indivíduo existem pilares mestres da humanidade. Pode
não ser distinguível pelo comum dos observadores, mas Barnes não é um
mero e distraído observador. Dessa matéria regularmente visível vai ao âmago do
principal, depura as ideias e apresenta-as como elevada literatura. As
situações comezinhas emprestam o colorido ao desenho, ou exemplificam o cerne
das interrogações. E são muitas. A religião e a morte entrelaçam-se na memória
de Julian Barnes. “Nada a Temer” é sobre ele próprio, é sobre a família e
é, principalmente, sobre as dúvidas que nos assaltam desde os primórdios. No
particular está o universal. A família Barnes, através da voz autoral de
Julian, medita sobre o seu desaparecimento, a relação com Deus, a divindade da
Arte.
“As pessoas dizem sobre
a morte: «Não há nada a temer.» Dizem-no depressa, em tom casual. Ora vamos lá
dizê-lo outra vez, lentamente e com ênfase: «Não há NADA a temer.»”
Um belo livro, que
intercala melancolia com humor, pessimismo com alegria, qualidade com ainda
mais qualidade.
A reedição de “Nada a
Temer” pela Quetzal vem em boa hora.
0 Comentários