“A História de Uma Serva”, de Margaret Atwood, mantém-se actual e adivinha-se a sua importância nas próximas décadas. Tal qual “Fahrenheit 451”, de Bradbury, e “1984”, de Orwell, a distopia observa o avesso do ser humano. A negrura das ideias políticas e sociais são fruto caído e apodrecido da árvore do conhecimento. Orwell, Bradbury e Atwood pegaram no fruto e abriram-no até ao caroço para expor a semente de “ismos” cujo futuro se revela demasiado promissor. O público alimenta gratuitamente redes sociais atentas ao nosso comportamento, vigilantes e sedentas de moldar as nossas ideias através de mensagens apontadas às nossas vulnerabilidades. Vivemos um ambiente orwelliano. Além disso, há códices proibitivos, organizados por ideias anticolonialistas, feminismos radicais, ou, como no Brasil, fanatismo religioso. O poder, como o de "Fahrenheit 451”, inocula com ideias absolutistas os anticorpos libertários. A denúncia do movimento #Metoo, o escândalo de Robert Ailes na Fox e o de Weinstein, em Hollywood, mostram que a narrativa de Atwood tem inquietantes ligações à realidade, não de agora, mas da realidade que vem de há séculos até ao dia em que o leitor tem na frente este texto. Eis o primeiro passo para a entrada no cânone: a constante actualidade da mensagem. Outros passos se seguem.
Olhemos para os textos canónicos e veremos que os mesmos foram registados nos mais diversos registos literários. Alguns por serem canónicos, outros assim se tornaram pela difusão em discursos tão diversos. “A História de uma Serva” entra no cânone. O livro de Margaret Atwood foi adaptado a série (produzida pela Netflix) e é agora transformada numa novela gráfica por Renée Nault. A qualidade já lá estava, mas o desafio não deixa de ser imenso. Será que defrauda as expectativas de milhares de leitores que imaginaram as personagens e/ou viram as palavras ganharem rostos e os dramas especificarem cores, sons e movimentos? Terá a Netflix secado a possibilidade de novas linguagens para esta distopia? A resposta a ambas as perguntas é não. Há na arte de Nault total comunhão com o texto de Atwood. A melancolia e o silêncio são capturadas pelos desenhos de Nault. Há textura, arrojo e uma palete de cores que mais do que complementares são simbióticas com a prosa de Atwood; são bem utilizadas numa cenografia engenhosa, impactante, que tanto deixa respirar cada cena como se aproxima e regista as nuances das expressões dos protagonistas. Um leitor está perante um objecto precioso, não só pelo conteúdo, como também pelo primor da edição da Bertrand Editora.
Olhemos para os textos canónicos e veremos que os mesmos foram registados nos mais diversos registos literários. Alguns por serem canónicos, outros assim se tornaram pela difusão em discursos tão diversos. “A História de uma Serva” entra no cânone. O livro de Margaret Atwood foi adaptado a série (produzida pela Netflix) e é agora transformada numa novela gráfica por Renée Nault. A qualidade já lá estava, mas o desafio não deixa de ser imenso. Será que defrauda as expectativas de milhares de leitores que imaginaram as personagens e/ou viram as palavras ganharem rostos e os dramas especificarem cores, sons e movimentos? Terá a Netflix secado a possibilidade de novas linguagens para esta distopia? A resposta a ambas as perguntas é não. Há na arte de Nault total comunhão com o texto de Atwood. A melancolia e o silêncio são capturadas pelos desenhos de Nault. Há textura, arrojo e uma palete de cores que mais do que complementares são simbióticas com a prosa de Atwood; são bem utilizadas numa cenografia engenhosa, impactante, que tanto deixa respirar cada cena como se aproxima e regista as nuances das expressões dos protagonistas. Um leitor está perante um objecto precioso, não só pelo conteúdo, como também pelo primor da edição da Bertrand Editora.
Autor : Margaret Atwood e Renée Nault
Editor: Bertrand Editora
Data de lançamento: 07/02/2020
EAN : 978-9722537858 ISBN : 9789722537858 Dimensões : 16 x 23,5 cmNº Páginas : 240
Encadernação : Cartonado
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