"Paz Traz Paz" (Companhia das Letras) é um fio de pérolas feito por uma criança.
O livro de Afonso Cruz (n.1971) celebra a visão pura de uma criança sobre o mundo. É cristalino e não manchado por sombras.
O leitor esquece-se de que é um adulto a juntar as pérolas. Esta menina é uma das vozes do autor, já ouvida em "o Livro do Ano". Retorna agora com "Paz Traz Paz", conjunto de pensamentos sobre pessoas que a rodeiam, família, situações e paisagens.
Desarmada do cinismo adulto, vai contagiando leitor com textos mágicos, inclinados para o bem. São pensamentos que convidam a desarrumar a lógica construída com os anos.
É de tal modo fluido que ficamos a pensar na resistência do autor em "crescer", em se deixar domar pela hipocrisia imposta pela maturidade. O avô desta menina afirma que "não deixamos de brincar porque envelhecemos. Envelhecemos porque deixamos de brincar."
Se assim for e se realmente temos de crescer, seja como o irmão desta menina que nos traz paz:
"O meu avô deu ao meu irmão/ um livro que não era para crianças, e o meu irmão comentou/ que não era para crianças, e ele respondeu-lhe:/ se só leres livros para crianças, não/ deixas de ser criança./ Há muitas maneiras de o fazer, mas esta é a que prefiro:/ sair da infância a ler./ Já que se perde tanto, pelo menos/levamos connosco/malas de histórias."
Afonso Cruz sonha como uma criança e escreve como um grande escritor para leitores de todas as idades.
Se somos formados por histórias, então que sejam as de Afonso Cruz. Somos melhores nas suas palavras.
Se somos formados por histórias, então que sejam as de Afonso Cruz. Somos melhores nas suas palavras.
Paz Traz Paz
de Afonso Cruz
de Afonso Cruz
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