Foi apontado como Livro do Ano pelo o El País, El Mundo, El Heraldo e La Vanguardia. O Jornal de Letras atribuiu encómios ao romance do poeta Manuel Vilas. “Em tudo havia beleza” (Alfaguara) revelou-se um livro que ganharia em pungência se tivesse menos cem páginas. A redundância acabou por ser inevitável. E o enfado também. É um bom livro, mas que devido ao proselitismo de Manuel Vilas sobre a sua dor não chega à excelência. Se o intuito foi dotar a prosa de uma respiração lenta, pausada, é um caso de sucesso. Mas ganharia muito mais se não caísse em redundância, se fosse mais incisivo. Seria mais impactante. Vilas não cai em queixumes estéreis neste relato íntimo sobre a sua vida. Mas aborrece ao alimentar-se daquela dor que, bem analisada, dificilmente poderia sustentar um romance capaz de manter o leitor agarrado do princípio ao fim. “Em tudo havia beleza” (ou “Ordesa”) é a via sacra do autor pelos seus problemas de alcoolismo, infidelidade, económicos. Vilas analisa-se como filho, após a morte de seu pai e de sua mãe. Ele tenta perceber o seu passado para se conhecer melhor. E visita esse passado, desde os aspectos culturais de Espanha que influenciam o seu comportamento até aos hábitos banais, dos gestos simples, que passaram de pai e de mãe para filho. “[A minha mãe] Dizia muitas vezes « o diabo está nesta casa», quando procurava algo e não o encontrava. (…) Eu herdei o mesmo princípio de demência. Procuro coisas que tenho à minha frente, como um livro ou uma carta ou uma camisola ou uma faca ou uma toalha ou umas meias ou um documento de um banco, e não sei vê-las. A minha mãe estava convencida de que o demónio lhe escondia as coisas, que o demónio era o culpado dos pequenos contratempos. (…) e eu sou ela agora (…)”
O autor consegue não se resumir a um universo pessoal. A mentalidade espanhola está bem espelhada nestas páginas. É uma mais-valia, mas o grande mérito de Vilas é outro: a honestidade com que se revela. Um bom livro, vale a pena o dinheiro, mas não o “hype” criado à sua volta.
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