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Shot #13: O Chefe da Estação Fallmerayer







O longo caminho para a decência. 

Uma ruptura na banalidade dos dias leva o chefe de uma estação de comboios a mudar radicalmente a sua postura. Adam Fallmerayer era um homem previsível, confiável para a sua “um pouco limitada” mulher e seus dois filhos, até ao dia em que um comboio-expresso embate num comboio de mercadorias. Fallmerayer ocorre em auxílio das vítimas. Nesse fatídico momento, conhece uma condessa russa, também casada, a quem cede o seu quarto e a sua cama para se restabelecer. A partir daí, o perfume feminino irá tomar conta de cada espaço do domicílio e do seu pensamento. “Aquele estranho aroma ficou entranhado na casa e gravado na memória, sim, poder-se-ia dizer até no coração de Fallmerayer muito mais tempo do que a catástrofe” 
Há tanto desalento na prosa de Roth que se torna difícil não a acompanhar. Esta indigna descida em espiral de Fallmerayer não augura esperança para a personagem. Um homem confiável, até banal, numa profissão com características monótonas é modificado por uma presença feminina. Nem a Grande Guerra o levará a desistir de a procurar e de a tomar como sua. Nem a Grande Guerra, nem sua mulher, seus filhos e muito menos o marido da condessa, entretanto desaparecido em combate.
A melancolia da prosa dá lugar a um vórtice imparável que o levará a deixar mulher e filhos na procura daquela paixão. Ninguém conhecedor do chefe de estação previa aquele voluptuoso destino. A distância entre o casal foi sendo cavada pelo marido. Rapidamente, ele percebeu que a solidão ansiada não era mais do que necessidade de distância. Ele queria estar afastado de sua mulher para poder pensar na condessa russa. Até conseguir concretizar a sua volúpia, Fallmerayer, luta na Grande Guerra, é ferido, agraciado, promovido a tenente, internado, não usufrui de licença. Começa a aprender russo para poder galantear a condessa. “Aprendeu expressões de carinho, expressões de descrição, preciosas expressões de carinho russas. Falava com ela. Estava separado dela através de uma grande guerra mundial e ele falava com ela.” Roth resume a luta do personagem na guerra com meia-dúzia de frases para se poder concentrar no desenvolvimento da obsessão. Fallmerayer sai de casa, vence as dificuldades, e viaja até casa da condessa. Joseph Roth, autor da obra-prima “Judeus Errantes”, exercita a economia da prosa para se manter no essencial. ”O Chefe da Estação Fallmerayer” (Assírio e Alvim; com introdução de Álvaro Gonçalves) é mais um exemplo da excelência da sua escrita. Há, felizmente, muito para ler deste autor nascido em Brody (1894). “O Leviatã”, “A Marcha de Radetzky”,  “Confissão de um Assassino”, “Fuga sem Fim”, “A Lenda do Santo Bebedor” e “Jó - romance de um homem simples” estão traduzidos para português. “O Chefe da Estação Fallmerayer” foi publicado em 1933. Seis anos depois, Roth, cuja vida foi marcada pelo alcoolismo, iria falecer devido a pneumonia e insuficiência respiratória. 



O Chefe de Estação Fallmerayer

ISBN: 978-972-37-2075-4
Edição ou reimpressão: 03-2019
Editor: Assírio & Alvim
Idioma: Português
Dimensões: 117 x 185 x 7 mm
Encadernação: Capa mole
Páginas: 80



 

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