Ainda estamos nos primeiros capítulos e logo percebemos duas situações: Ora ficamos confortados por saber que não cometemos tais erros, ora coramos com a própria ignorância. De forma divertida e pedagógica, Manuel Monteiro tem em “Por Amor à Língua-contra a linguagem que por aí circula” (Objetiva) um livro que concilia a funcionalidade com o aspecto mais recreativo. Incisivo sem ser impositivo, bem-humorado sem cair no sarcasmo, o autor vai explicando a diferença entre pleonasmos criativos (“Vi, claramente visto, o lume vivo”, de Camões) e pleonasmos ignorantes ou inadvertidos (Há duas semanas atrás; entrou dentro do carro), vai decifrando a utilização dos adjectivos e dos lugares-comuns (adepto fervoroso, defensor acérrimo), expondo a beleza da eufonia e diagnosticando os pecados veniais do estilo literário. Antes de desenvolver alguns aspectos do “Malfadado Acordo” (penúltimo capítulo) e de contar “Histórias da revisão” (no fim do livro), Manuel Monteiro, cuja profissão é a de revisor linguístico, desenvolve alguns capítulos que clarificam a vantagem da diversidade vocabular (“Quantas mais palavras conhecemos, mais chaves de decifração da interioridade e do mundo exterior temos"), apontam as mentiras repetidas muitas vezes (como a das palavras estrangeiras tornarem a língua mais rica), os grilhões dos automatismos linguísticos, e a excessiva utilização dos pronomes pessoais e possessivos. O leitor revê os outros e revê-se nos exemplos escritos pelo autor.
Ler, reler, consultar. O leitor só ganha com isso. E os potenciais interlocutores também. É como uma vacina. Inocula quem a toma e protege a comunidade do vírus.
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Cunha de Leiradella