Charles Manson inscreveu-se na realidade e no imaginário norte-americano com o sangue das suas vítimas. Os assassinatos de Sharon Tate, grávida de oito meses, e seus amigos foram os mais impactantes e brutais. Mas antes outras vítimas foram feitas. Sem facadas nem tiros. A primeira destruição foi a da personalidade das pessoas que o rodeavam. A individualidade de cada um dos elementos foi aniquilada pelo grupo, viciado em drogas, e pelas ideias do líder.
Os principais elementos da “Família Manson” eram Charles “Tex” Waxton, Bobby Beausoleil, Paul Watkins, Clem Grogan, Bruce Davis e as raparigas Susan Atkins, Linda Kasabian, Patricia Krenwinkel, Leslie Van Houten, Ruth Ann Moorehouse, Lynette “Squeaky” Fromme e Mary Brunner.
As características destes membros fundamentaram a criação das personagens de “As Raparigas” (Porto Editora). É um livro de ficção com fortes ligações a um acontecimento hediondo e real. No entanto, Emma Cline (Califórnia, 1989) não procura ser fidedigna aos factos. As variações introduzidas mostram o objectivo da autora em compreender as fundações de um problema.
A necessidade de pertença expõe o indivíduo à manipulação e subversão pelo poder. Neste caso, pelo carisma dos personagens Russell (baseado em Charles Manson) e Suzanne (possível projecção de Susan Atkins).
A narradora Evie Boyd, agora adulta, recorda esses acontecimentos devido ao inesperado encontro com Julian, filho de um amigo, e da sua namorada Sasha. A curiosidade de Julian e a identificação com Sasha motivam-na a recordar a convivência com o gangue de Russell.
0 Comentários