Festival Literário da Gardunha iniciou a sua 3ª
viagem
A 3ª edição do Festival Literário da Gardunha
começou, oficialmente, no dia 21 de Maio.
Gonçalo M. Tavares, Ana Margarida de Carvalho,
Fernando DaCosta e Margarida Gil dos Reis (moderadora) foram os protagonistas
da primeira “Mesa Redonda” do festival.
Após a Conferência de César António Molina, antigo
ministro da Cultura de Espanha, os três autores portugueses conversaram, com
maiores ou menores desvios, dentro do mote proposto para esta edição: “Escrever
a Paisagem”.
Gonçalo Tavares vê a energia humana como algo de
muito atraente. Depois de estar isolado a escrever, o autor de “Uma Viagem à
Índia” precisa de ter pessoas à sua volta.
“Se a
paisagem não incluir seres humanos, entedia-me”.
O indivíduo contemporâneo limita-se a passar
repetidamente pelos mesmos lugares sem qualquer observação do que o rodeia. A
repetição desse trajecto desenha uma figura geométrica no mapa. É o traço
deixado pela rotina. Além da vertente concreta e geográfica da viagem, a
deslocação do indivíduo é também formada por uma variável: a velocidade.
A linha recta, que indica o caminho mais curto e
mais rápido, tornou-se uma obsessão. Esta realidade elimina o gozo de viajar.
Hoje a viagem começa e acaba no ponto final, ou seja no destino.
Antes do vício em velocidade, a viagem era o
trajecto entre o ponto de partida e o ponto de chegada. Daqui resulta o
interessa do autor pelos situacionistas e pelo conceito de desvio. Sair da
forma geométrica e reduzir a velocidade permitem que o indivíduo repare. Se uma
pessoa viaja mas continua com a atenção no local de partida, em verdade não
viaja.
Fernando Dacosta, autor de “Viagens Pagãs”
(Parsifal), lembrou as histórias trágico-marítimas. Nessa época, os reis
mandavam embarcar pelo menos um cronista em cada caravela. Era o “registador de
factos”, capaz de grandes descrições dos costumes e das paisagens.
A tradição da viagem na literatura portuguesa
prolonga-se no século XIX com “ Viagens na Minha Terra”, de Almeida Garrett, entra
no século XX com “As Ilhas Desconhecidas”, de Raúl Brandão e, já no século XXI,
prossegue com “Uma Viagem à Índia”, de Gonçalo M. Tavares.
Há uma característica fundamental no pensamento do
homem português, para Fernando Dacosta: Portugal não é o centro do mundo.
Em consequência, o português sente o apelo pela
viagem.
A vontade de viajar tanto pode ser mental, como a do
sedentário Fernando Pessoa, ou mais física, como a de Padre António Vieira e
Luís Vaz de Camões.
Ana Margarida de Carvalho, que viria a apresentar o
seu novo romance no Festival Literário da Gardunha, afirmou que escrever é
estar parada e isolada num sítio.
“Que importa a fúria do mar” (Teorema) foi
construído através da investigação e não através de uma viagem a Cabo Verde e
ao Tarrafal. As possíveis incoerências factuais não são relevantes. Na ficção a
verosimilhança é muito mais importante do que a verdade.
A viagem tem várias declinações. O Festival
Literário da Gardunha promoveu desvios aos hábitos dos habitantes desta região.
O Auditório Moagem, no Fundão, recebeu muitos interessados em fugir da rotina
através da literatura.
MR
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