«Lisbon Blues» (Abysmo), livro de poesia de José Luiz Tavares (Cabo Verde, 1967), foi apresentado por João Paulo Cotrim (editor da Abysmo) e António Cabrita, autor de «Éter» ou «A Maldição de Ondina», na Livraria da Adega, em Óbidos.
No sábado à noite, penúltimo dia do Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos, João Paulo Cotrim descreveu “Lisbon Blues” como “um livro muito particular, pelo estilo da sua poesia e pelo olhar sobre Lisboa. É um olhar único e, dentro do ponto de vista estilístico, é um esforço para revisitar Cesário Verde através de uma língua “contaminada” pelo crioulo, principalmente de Cabo-Verde.”
A edição da Abysmo é enriquecida com as ilustrações de Pierre Pratt, que já colaborou com Alice Vieira ou Luísa Costa Gomes.
“Se este livro não fosse editado”, afirmou o editor da Abysmo, “nós, que nos habituámos a ver Lisboa como uma cidade branca, teríamos perdido alguns dos recantos mais obscuros que Lisboa tem para oferecer.”
António Cabrita demonstrou ter conhecido “Lisbon Blues” ainda antes de esta obra ser editada em Portugal, pois o livro do escritor cabo-verdiano foi publicado no Brasil. Sobre o livro, António Cabrita escreveu uma recensão, com o título “Tratado de urbanismo”, para um jornal cabo-verdiano.
Durante a leitura dessa recensão, o autor afirmou que no livro de José Luiz Tavares “temos a cartografia de Lisboa, os seus endereços e os seus autores. O verdadeiro resgate deste livro é a sua consciência crioula, mestiça, o entrelaçado dos seus beijos no ladrilhado dos versos”.
“Lisbon Blues” tem várias camadas. Há a Lisboa empírica, a vivência do poeta, as noites, os passeios e os desejos. Depois, há a memória dos poetas, a Lisboa de Cesário, de Nemésio, Armando Silva Carvalho e do inevitável Fernando Pessoa.
A poesia do escritor cabo-verdiano deambula pelos monumentos, tascas, cafés, jardins e praças, traçando a topologia da cidade. A vida e a poesia convergem.
Em “Lisbon Blues”, circulam o erudito e o calão. A conciliação entre dialecto e língua oficial portuguesa representa a negação, pelo poeta, da separação (política) entre língua e dialecto. O autor nascido no Tarrafal já havia tido a oportunidade de aproximar crioulo e português quando, a propósito do dia mundial da poesia, traduziu e leu poemas líricos de Camões em língua cabo-verdiana, como o poeta prefere dizer.
António Cabrita afirmou ainda que “ao arrepio da maior parte da poesia hoje dominante, que usa e abusa de um só tempo verbal, coincidente com o do poema e que se concentra num episódio e quadro temporal, José Luiz Tavares, como antes dele Jorge de Sena ou João Miguel Fernando Jorge, faz da história literária e social da linguagem um harmónio (…) ”
José Luiz Tavares finalizou a apresentação com a leitura do poema que dá nome ao livro.
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