«Vera Cruz», a missão de João Morgado
João Morgado (n.1965; Covilhã), vencedor do Prémio Literário Fundação Doutor Luís Rainha Correntes d'Escritas 2015, apresentou «Vera Cruz» (Clube do Autor), o seu novo livro, no “Fronteira- Festival Literário de Castelo Branco”. A Biblioteca Municipal de Castelo Branco foi o local escolhido para a apresentação do romance que, de acordo com o autor, demorou cerca de três anos a preparar e a escrever.
Tito Couto (Booktailors), a quem ficou entregue a apresentação, sublinhou o facto de haver um conhecido contexto cultural, mas alguma ignorância sobre os bastidores desses grandes acontecimentos protagonizados por Pedro Álvares Cabral, figura central de “Vera Cruz”. A fome, o frio, o medo e o ímpeto sexual das tripulações das naus são assuntos a que têm sido dedicada pouca ou nenhuma atenção.
Os Descobrimentos foram um período tormentoso para as tripulações. Condenados à pobreza, muitos preferiram sair de Portugal para, em consequência, as famílias receberem metade do valor atribuído pelo trabalho de anos em viagem. Voltando vivo, o marinheiro recebia a outra metade. Mas isso não acontecia, frequentemente.
Em “Vera Cruz”, o realismo da narrativa aproxima-se, sem mistificação, das dificuldades experienciadas pelos marinheiros (falta de água, de salubridade e de comida). A dignidade do homem era posta em causa e cedia através da pedofilia, da pulsão sexual e do instinto de sobrevivência (os ratos eram um petisco). A morte espreitava sempre.
A precariedade financeira e a moralidade da época incentivavam a venda de crianças, por parte das próprias famílias, para as naus. Entrava dinheiro, saía uma fonte de despesa.
“Vera Cruz” regista literariamente uma versão menos “higienizada” da História de Portugal.
Figuras como Vasco da Gama e D. Manuel I, dois contemporâneos de Pedro Álvares Cabral, são analisadas através das suas relações de interesses, das suas traições e dos papéis na aquisição e manutenção de poder.
Um livro histórico, segundo o autor, é feito de dados históricos, dos quais não se pode fugir. Quanto a “Vera Cruz”, o leitor pode usufruir de um texto composto por dados históricos, probabilidades e ficção.
Ainda de acordo com João Morgado, a essência de “Vera Cruz” está na interrogação a que o romance tenta responder:
“Qual é a verdadeira missão de Pedro Álvares Cabral?”
A apresentação foi enriquecida com leitura, pelo poeta Renato Filipe Cardoso, de um excerto do texto e com a música de João Afonso, intérprete convidado pela organização do “Fronteira – Festival Literário de Castelo Branco”.
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