O corpo celeste dividiu-se
em luz e em sombra, em mar e em terra, quando Deus posou a sua vontade sobre o
vazio e disse as palavras “Fiat Lux”. A primeira imagem terá sido assim tão
bela como a Madeira sob a primeira luz.
Em 2014, posteriormente à
entrevista de Luís Caetano a Gonçalo M. Tavares, Francesco Valentini, director
geral da Nova Delphi, desvendou o tema da 5ª edição, que iniciou, oficialmente,
esta noite:
“A Beleza: Corpo, Palavra
e Imagem”.
E foi Francesco Valentini
a iniciar a edição do Festival Literário da Madeira 2015.
Nas suas palavras
habitaram Adorno, Nietzsche, Eco, Walter Benjamin, Platão com toda a dialéctica
universal provocada pela beleza, plural e volátil. Imprescindível.
Numa edição em que Eduardo
Lourenço é homenageado, conforme Paulo
Cafofo (Presidente da Câmara Municipal do Funchal) fez questão de mencionar, a
Madeira é o centro de debate, até dia 21, sobre a Beleza.
O Teatro Municipal
Baltasar Dias foi a casa onde o trabalho da Nova Delphi encontrou a sua
recompensa: a presença do público. E foi muito aquele que assistiu a um dos
autores portugueses que mais divulgam a beleza e a palavra camoniana: o
professor Hélder de Macedo.
Contextualizados pela
beleza da poesia de Luís Vaz de Camões, Hélder de Macedo conversou com a
jornalista Anabela Mota Ribeiro sobre o tema “Cada um com o seu contrário num
sujeito”, verso da Canção VII (“Manda-me amor que cante docemente”) do maior
poeta de Língua Portuguesa.
Hélder Macedo recorre
muito a Camões, entre outras razões, por Camões não falar em Verdade, mas antes
em verdades. Esta postura contrasta com identificação da Verdade com a Beleza.
Havendo verdades, a beleza pluraliza-se e existe em vários matizes.
Ao aceitar-se esta
diversidade, o ser humano pode insurgir-se contra a ditadura do gosto expressa
no consenso.
Sempre em diálogo com
Anabela Mota Ribeiro, o autor afirmou que “a ideia de beleza associada à pureza
é feia”. Há uma ideia de impureza ligada, essencialmente, ao corpo. Desta
forma, a beleza passa a ser uma abstracção. Tal não é a sua ideia. “O milagre
do corpo é fugaz”. Amar um corpo, segundo Hélder Macedo, é amar algo mortal.
Hélder Macedo encaminha o
divino para o humano, tal qual Camões fez no poema em debate na Conferência de
Abertura.
“´[Camões] é o mais físico
dos nossos poetas”, afirmou.
A idealização foi trazida
ao físico, ao humano, ao tangível. A sexualidade camoniana foi contraposta à
idealização platónica.
O mortal Luís de Camões
encontrou o seu lugar na memória de gerações e gerações de leitores graças à
sua genialidade, inovação, mas também devido à demanda de estudiosos e
apaixonados como Hélder Macedo.
E o que procurava Camões,
interrogou Anabela Mota Ribeiro.
“Verdade, amor, razão,
merecimento”
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