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"A Casa das Rosas", de Andréa Zamorano, nas Correntes d`Escritas 2015



Andréa Zamorano (Rio de Janeiro; 1969) estreia-se como romancista com «A Casa das Rosas» (Quetzal). A autora, nascida no Brasil, vive há mais de 20 anos em Portugal. Por esta razão, ela considera-se um «híbrido» no que à nacionalidade diz respeito.

Acompanhada por Francisco José Viegas, seu editor, a autora fez uma breve apresentação do seu romance e participou numa Mesa, no seu ano de estreia nas Correntes d`Escritas. A sua emoção foi evidente durante este encontro literário. Para Andréa Zamorano, os autores devem chegar à Póvoa de Varzim preparados para serem amados. ´”É uma grande festa familiar”, afirmou.
Na Mesa onde participou, intitulada “O silêncio é o sal da escrita em construção”, viria a deixar alguns dados relevantes para a descodificação de “A Casa das Rosas”.
“Se o silêncio é o sal da escrita então o meu processo é próprio para hipertensos. Não que eu prefira a vida insossa, mas todas as paixões devem ser assim: turbulentas e ruidosas”, afirmou.
Em “A Casa das Rosas”, a personagem Cândida, atraída pela instrumental delicadeza de Virgílio, decide com ele casar. Quando engravidou, as suspeitas confirmaram-se. O egocentrismo do marido viria a cercar a sua liberdade. A gravidez revelaria o grau de violência que esteve sempre latente. Ela é agredida no momento em que iria fugir de casa. O possessivo advogado Virgílio Sá Vasconcelos nasceu numa família rica de São Paulo, vive em abastança, apesar de nada produzir. E odeia os pobres.
“A chuva era linda sem pessoas a atravessar-se no retrato. O povo molhado tornava-se ainda mais feio, mais pobre, mais repulsivo.”
Ele é obsessivo. As suas acções procuram o benefício próprio. A redução à abstracção da figura feminina (esposa, filha) serve o seu propósito: transformar a mulher numa dependência, servil, satélite de si. Se a esposa se revoltou, a filha tomará o seu lugar.
“Quando a outra estivesse pronta, desconheceria a piedade. Faria como os Bambaras. Atrasados. Excisaria o seu clitóris e iria dá-lo aos ratos. Para que desde tenra idade ficasse condenada a não ter masculinidade no seu sexo”
O mundo é ele. E a beleza (como a das rosas) serve os seus propósitos. Será cortada cerce para o servir.
O enredo composto por várias vozes e saltos temporais caracteriza a história com um ambiente onírico, fantasmagórico. O ciúme, a traição, a violência e o crime são artifícios que levam o leitor a acompanhar uma ficção sobre violência doméstica e a objectificação da mulher, num Brasil a sofrer uma histórica viragem política (campanha pelas eleições directas).
Andréa Zamorano cria uma (ir)realidade onde se cruza o visível com o imaginário.
Personagens literárias habitam a realidade, e o animismo abre possibilidades numa história que não se limita ao que os olhos conseguem ver.
A debutante Andréa Zamorano construiu um romance cheio de violência emocional e física, num ambiente sórdido, agressivo e egoísta.
A ficção de “A Casa das Rosas” está nos antípodas do que a escritora diz ter sentido nas Correntes d`Escritas: a invulgar gentileza, generosidade e amizade dos poveiros.

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=762314

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