Cidade
de igrejas, devota à palavra de Deus, Penafiel entrega a sua voz, as suas ruas,
o seu tempo à Literatura de Lídia Jorge.
O
som vibrante dos sinos reclama a atenção dos crentes e marca o ritmo diário dos
penafidelenses. As palavras espalhadas pelo chão, rasteiras, envolvem os
passos, seduzem o Homem e apelam a entrega da crença humana à sibilante magia
da ficção.
Cartazes
espreitam no interior das lojas. Fotos penduradas dançam com o vento. Pássaros
de papel espalham a sua sombra sobre os espectadores do teatro de rua.
A
prosa de Saramago, Lobo Antunes, Urbano Tavares Rodrigues, Mia Couto, Agustina
tem a sua voz nas vozes dos actores. Crianças da escola primária, estudantes
universitários, lojistas e clientes presenciam a conjugação de diferentes
universos nas avenidas, ruas e becos da sua cidade. Os anteriores homenageados
sublinham, de 01 a 05 de Outubro, a criação literária de Lídia Jorge.
Não
há o dia dos prodígios, mas 5 dias entregues à demonstração por Penafiel de que
a vida de uma mulher, que em criança viu partir o pai e o avô, valeu a pena. A
criação fragmentou-se em milhares de partículas de luz e iluminou, através do
mutável e complexo organismo que é a literatura, os cantos escuros do
desentendimento, da torpeza e da solidão.
Bem
podem os sinos clamar. A cidade é de Lídia Jorge. A Escritaria celebra e
homenageia a carreira literária de uma das maiores escritoras portuguesas da
actualidade.
As
palavras são mais do que murmúrios. O ferro gravou as palavras de Lídia Jorge
em chão de pedra, defronte de um portal para outros e múltiplos tempos: A
biblioteca Municipal de Penafiel.
O
descerramento da frase marcou, ontem, o chão da cidade. Até chegarmos a estas
palavras, ouviu-se, durante a procissão do Museu Municipal de Penafiel até à
Biblioteca Municipal, vozes de estudantes e de anciãos, viu-se pinturas e
fotografias, enquanto as máquinas guardavam as imagens dos fotógrafos.
A
cidade foi descontaminada da ditadura da realidade e entregue ao algoritmo de
descodificação psicológico e cultural: a literatura
A
Escritaria de 2014 é um conjunto de sinais memoráveis. Fernando Alves, já a
noite se tinha instalado, apelava, em entrevista, à recordação pela autora do
inicial nevoeiro visto por ela e sua mãe. Do nevoeiro, da necessidade de se perder
da sua figura maternal, da já mencionada ausência de uma figura masculina, das
matriarcas literárias Sophia e Agustina, enfim, das imagens que a formam.
Durante
90m, a escritora Lídia Jorge falou sobre a sua formação como escritora e como
leitora.
Ambas, assegurou, são fruto da lentidão, precisam de tempo para amadurecerem, numa simbiose entre texto, criador e recriador. O texto é para o leitor aquilo que o leitor consegue ser no momento da leitura.
Ambas, assegurou, são fruto da lentidão, precisam de tempo para amadurecerem, numa simbiose entre texto, criador e recriador. O texto é para o leitor aquilo que o leitor consegue ser no momento da leitura.
Lídia
Jorge é Literatura.
Mário
Rufino
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