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"Rugas", de Paco Roca



«Rugas»: uma homenagem a quem se encontra no fim do caminho



Nos últimos anos, a Banda Desenhada tem ganhado maior protagonismo devido à sua publicação e divulgação por editoras muito relevantes no mercado editorial. «Rugas», editado pela Bertrand, é o caso mais recente.

A qualidade literária de obras como «Persépolis» (Contraponto), de Marjane Satrapi, «Fun Home - Tragicomédia familiar» (Contraponto), de Alison Bechdel, «Contos dos Subúrbios» (Contraponto), de Shaun Tan, justifica a aposta editorial nas narrativas ilustradas.
«Rugas», de Paco Roca, foi galardoado internacionalmente com vários prémios.
A história de Emílio, um bancário que lida com a doença de Alzheimer enquanto é deixado num lar, ganhou o «Prémio Nacional del Cómic» do Ministério da Cultura Espanhol, o «Prémio Melhor Obra e Melhor Guião» do Saló Internacional del Cómic de Barcelona e o «Grand Prix de La Critique» da ACBD, França.
Desde a capa até à última página, Paco Roca oferece ao leitor um puzzle sobre o silêncio, a perda, a solidão e, principalmente, o amor.
O autor, conforme informa nas últimas páginas, utilizou histórias verídicas na construção das personagens.
«Emílio, o pai de Diego, tem Alzheimer. Com um riso amargo, o meu amigo conta-me os desvarios do pai. Seriam todos divertidos, se não fossem sinal da inevitável decadência final de uma pessoa que sempre me inspirou o maior respeito. Talvez por estes motivos (e por a minha mãe, sempre tão orgulhosa, ter comprado recentemente, para sua vergonha, a sua primeira bengala) tenha decidido fazer uma história sobre pessoas idosas.» (pág. 102)
No lar para onde Emílio vai e onde tudo acontece, habitam um «sénior» com problemas auditivos, um cego, um doente com Alzheimer, vários com problemas de locomoção, uma senhora que vê marcianos e um outro «sénior» com enorme sentido... comercial.
O que se dá como adquirido dissipa-se no labirinto de uma memória corroída pela doença.
O vestuário é um dilema, perde-se a ideia da função dos utensílios, o passado distante funde-se com o presente, o passado recente não é retido.
As recordações desaparecem. O Homem sem o seu património individual é um ser vazio. Mas «Rugas» não é um livro lamechas ou sádico. O leitor é exposto à melancolia, à tristeza e ao riso.
É inevitável a ligação a «Amour», filme de Haneke, e «A Máquina de Fazer Espanhóis», livro de valter hugo mãe.
Paco Roca fala do mais difícil da velhice e entra na sala de espera para a morte. Sempre com muito respeito e humor. «Rugas» é uma homenagem a quem se encontra no fim do caminho. Em pleno declínio, a vida é ainda capaz de surpreender os mais incrédulos.
O leitor tem 100 páginas, cheias de emoções, para ler e reler.
A BD fica cada vez mais rica com a edição de livros com esta qualidade.



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