Estudava literatura e não havia internet, Tablet ou
mesmo telemóvel.
Era inevitável ir a uma biblioteca, ou a uma sala
de aula, ou visualizar os programas da Universidade Aberta, na RTP 2 ou em
VHS.
Recortava os artigos do Jornal de Letras, do Mil
Folhas, guardava as revistas Ler, as Colóquio-Letras, tirava fotocópias de livros
emprestados por amigos.
O acesso à literatura fazia-se de fora de casa,
pois poucos livros havia nas prateleiras do meu quarto.
Eu tinha de me deslocar. Procurar implicava ir ao encontro de.
Eu tinha de me deslocar. Procurar implicava ir ao encontro de.
A capacidade de leitura era formada por quem se
havia constituído especialista em literatura. E quando digo formada, penso em
exponenciada e, simultaneamente, limitada. Uma não elimina a outra.
A informação era estrangulada em tão estreita
comunidade.
Hoje, continuo a estudar literatura. Há internet e,
em consequência, blogues, "sites" para "download", acesso
imediato a informação. Não preciso de ir à biblioteca da faculdade, ou do
concelho. A senha “download” abre a biblioteca de Alexandria. Não recorto; faço
copy-paste. Não vou a uma sala-de-aula; vou ao youtube.
A mudança no acesso à informação deslocou a
importância do crítico especializado para a comunidade virtual, composta por
leitores formados em leituras viciadas em actualidade.
A diferença é enorme. Com a mudança de entidades negociadoras,
o significado- produto de negociação entre duas entidades- altera-se.
Quem não concorda com este deslocamento, seja o
despojado de importância ou o conhecedor (podem coincidir), diagnostica a
cegueira do leitor. Mas quando uma pessoa não conhece o caminho, por não
conseguir vislumbrar mais do que à frente se lhe apresenta, a responsabilidade
também é – e muita – de quem sabe e não ensina.
O conhecedor faz do conhecimento a base da sua
soberba. Não entende a mudança de paradigma. A responsabilidade continua: O
conhecedor ensina quem não conhece; não escarnece nem se eleva, pois tem a
capacidade de perceber que o seu conhecimento depende da área em que é exercido.
Fora dele, é um inculto a precisar de quem o ensine.
Há mais fontes, há maior pluralidade e há mais
ruído.
No interior de mais possibilidades, há o referido e
sublinhado conhecedor. É tempo de ele assumir que tem de ir espalhar a palavra,
procurar quem precisa dele, abdicando do que já dele abdicou: o estatuto.
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