Disseram-me, sem qualquer vestígio de sarcasmo ou arrogância, que eu tinha de ir no Alfa com destino Porto-Campanhã, conhecido por muitos como o “comboio dos escritores”, tal é a abundância destes “estranhos” indivíduos nas carruagens. Preparei um texto metafórico, onde mencionava a minha viagem física, a 140 km horários, acompanhado desses “Willy Wonkas” que nos guiam dentro das suas fábricas de chocolate.
Ouviria palavras cristalinas, mas fortes como aço. Estava preparado para o inevitável desencanto dado pelas palavras de barro, com os seus sons catalisadores de desilusão, lado lunar dos seus criadores literários.
Estava preparado para isso, mas não para isto:
Uma horda de alemães, de hoodie preta estampada com uma imponente águia, transportando sons tilintantes dentro de sacos de plástico, a cheirar a sandes bafientas enroladas em celofane, e a arrotar cerveja...
Não levo literatura, neste momento. Levo com futebol. Mas há algo de metafórico nisto. Não sei em que estação saio. Isto quer dizer que o meu sossego depende da vontade destes devotos alemães. Onde é que eu já vi isto?
Não entendo uma palavra de alemão. Talvez estejam a falar de Schiller ou Goethe; talvez a águia vermelha de nylon que oscila sobre a minha cabeça, numa bandeira prestes a servir-me de mortalha, seja a capa de um novo livro de Herta Muller.
Gosto muito de literatura alemã, gosto de futebol, mas espero gostar mais de os ver a afogar em cerveja Sagres os três golos do Jackson Martinez.
Ondjaki, em “Os transparentes”, dá-nos um cinema mudo, onde os espectadores são, involuntariamente, responsáveis pelos diálogos. Aqui, eu tenho a imagem a fugir com a velocidade de 150 km por hora. E sons, ostensivas cascas de palavras por encher com os sentidos que me apetecerem.
As “Correntes d` Escritas” impressionam-me. Há sempre desculpas quando algo não se faz.
Na Póvoa de Varzim, não há necessidade de desculpas. Estamos na 15ª edição das Correntes.
Em 2013, a organização foi perfeita. Fiquei adepto. As Correntes de 2014 começam, oficialmente, amanhã. No entanto, hoje já poderemos assistir a lançamento de livros:
- «Do branco ao negro», AA.VV. com Rita Roquette de Vasconcelos, Sextante
- «Livros Nómadas do Sangue», João Rios, Edita-me, entre outros.
- «Livros Nómadas do Sangue», João Rios, Edita-me, entre outros.
Há, também, o lançamento da Flanzine, projecto muito divulgado nas redes sociais.
Vou ter de ficar por aqui. Berram-se hinos ao Eintracht Frankfurt, cheira a cerveja vinda do estômago. O passageiro que pendurou a mortalha sobre a minha cabeça parece o Philipp Lahm, do Bayern de Munique. Grande Jogador.
Amanhã temos “Correntes d`Escritas”
P.S.: O FC Porto recebe na quinta-feira o Eintrach Frankfurt, para os 16 avos da Liga Europa
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