A editora Parsifal escolheu, para sua
primeira obra editada, um livro de contos intitulado “Contos Capitais”.
O risco de começar com um género literário
tão pouco publicado, em Portugal, foi atenuado com a participação de muitos
nomes consagrados. Autores como Baptista-Bastos, Mário de Carvalho, Riço
Direitinho, Maria do Rosário Pedreira, Miguel Real, Urbano Tavares Rodrigues e
José Mário Silva conferem propriedades literárias suficientes para fazerem de
“Contos Capitais” uma obra interessante no domínio das narrativas curtas.
Neste livro, cada escritor escreve sobre
uma cidade. No global são 30 autores que escrevem 30 narrativas sobre 30
cidades.
Uma obra composta por tantos autores (26
escrevem em língua portuguesa e 4 em castelhano) apresenta, inevitavelmente,
oscilações qualitativas. Algumas narrativas breves usam a geografia como mera
decoração (“Bruxelas”, por exemplo). Outras, no entanto, valorizam a
localização até não ser possível que determinada história possa acontecer
noutra cidade (“Buenos Aires”).
No campo estilístico, a qualidade varia da
cacofonia presente em “Estocolmo” até à sobriedade da prosa de Mário de
Carvalho em “Ashitueba”, cidade fundada na imaginação do autor há cerca de 30
anos.
No aspecto formal, vários textos
apresentam-se mais como crónicas (“Atenas”) do que como contos.
Há várias narrativas que merecem destaque,
pois acrescentam muita qualidade a “Contos Capitais”:
Com um texto mais próximo da crónica do
que do conto, Valério Romão valida a qualidade já apresentada numa ficção
publicada, em Maio, na Revista Granta. O autor de “Autismo”, publicado pela
Abysmo, vai conquistando a atenção dos leitores.
José Mário Silva oferece ao leitor, em
“Washington”, um dos melhores contos do livro. Emotivo, sem artifícios
estéreis, objectivo, o texto do autor e crítico literário conjuga muito bem o
enredo com o aprofundamento psicológico das personagens, aproveitando,
eficazmente, o contexto geográfico.
José Carlos Barros, em “Havana”,
“transporta” o leitor para o ambiente social e político de Cuba, através da
envolvente história de um treinador de futebol com capacidades idênticas às de
José Mourinho.
Os textos de Mariana Ianelli, Alejandro Reyes, Urbano
Tavares Rodrigues (talvez seja o que mais “obedece” à estrutura canónica do
conto) merecem, pela elevada qualidade, serem relidos.
“Contos Capitais” pode ser um marco para novas
estratégias editoriais. No ano em que surge a revista Granta, que dedica muito espaço
a narrativas breves, e no ano em que Lydia Davis, autora de, essencialmente,
“short-stories” ganha o “Man Booker International Prize”, a Editora Parsifal
estreia-se no mercado com um meritoso livro de contos.
Variando do dispensável ao excelente, os
textos editados nesta obra caracterizam-na como muito interessante e plural,
tanto em estilos como em estruturas.
As fotos e as ilustrações são mais-valias
na construção do significado.
O livro, como objecto, é de excelente
qualidade gráfica.
Louve-se a
tenacidade da editora Parsifal em editar um género literário tão pouco editado
em Portugal.
Mário Rufino
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