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Ricardo Menéndez Salmón (n.1971, Gijon), autor de “A Ofensa”, “Derrocada” e
“O Revisor” (conhecida como a “Trilogia do Mal”), surpreende o leitor com uma
obra que interroga as fronteiras dos géneros literários.
“A luz é mais antiga que o amor” (Assírio & Alvim) procura a simbiose
entre o ensaio e a ficção.
O autor dividiu o texto em duas situações ficcionadas e uma real. Em 1350,
a Europa é dizimada pela Peste Negra. Beaufort, futuro Papa Gregório XI, obriga
Adriano de Robertis a destruir a blasfema “Virgem Barbuda”. Em 1970, Mark
Rothko corta os pulsos. O seu suicídio é o culminar de dramáticos
acontecimentos na sua vida pessoal. A sua obra, principalmente o domínio da
ausência, a tentativa de capturar o vazio, através da inexistência de luz nas
suas pinturas, é a revelação do interior do pintor. Em 2001, Vsévold Semiasin
escreve uma carta explicando a sua loucura.
O leitor está perante a ruptura com a normalidade.
A homogeneização entre os textos é entregue à geografia (Sansepolcro), a
uma obra de arte (“ Virgem Barbuda”) e, principalmente, ao tema.
O que mais importa salientar não é o
binómio realidade/ficcionalidade. “A luz é mais antiga que o amor” é um texto
especulativo, pois baseia-se na possibilidade. Umas situações são reais, outras
são fictícias, mas todas são possíveis.
Salmón debate a dialéctica entre o ser humano, a natureza e a criação. A
relação da Arte com a Vida é o tema deste livro. A partir daqui, o tema é
desenvolvido através de vários assuntos.
O escritor espanhol interroga-se sobre a relação entre a obra e o criador
quando, nos três textos, existe a preocupação em ligar, quase como
causa-efeito, a obra às vicissitudes da vida do criador, como individuo. A
morte do filho de Adriano de Robertis, o abandono de Mark Rothko pela mulher, e
a incompatibilidade de Semiasin com a época em que vive são factores fundadores
das respectivas obras.
E vai mais longe. A vertente ensaística tenta iluminar, e a luz é essencial
neste livro, a problemática da recepção da obra, das condições sociais em que
ela é produzida, e da relação, sempre presente, entre Estética e Ética.
Menéndez Salmón transmuda-se para o texto (Bocanegra é o exemplo mais
visível), enquanto se interroga sobre a verdade dessa mesma transferência.
A demanda do autor espanhol é património intelectual da História da Teoria
da Literatura. Dentro ou fora do texto, o Autor, universal, procura a Verdade;
tenta descobrir o objectivo – se é que há- da Criação; entender os processos mentais
que contribuem para a produção de textualidade; descobrir até onde a
textualidade (pintura, texto literário) criada é autónoma; ou perceber se a
criação da arte é uma forma de experiência moral.
“A luz é mais antiga que o amor” é uma demanda que semeia perguntas na
mente do leitor.
A complexidade do raciocínio do autor encontra a simplicidade de processos
na escrita. O texto é iluminado por essa simplicidade, e o leitor poderá,
assim, usufruir da luz que Salmón empresta a temas intrínsecos da Arte.
Mário Rufino
Mariorufino.textos@gmail.com
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