«Mazagran - Recordações & outras fantasias» (Quetzal)
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=602655
J. Rentes de Carvalho não perde uma
oportunidade para contar uma história.
“Mazagran
- Recordações & outras fantasias”, livro composto por crónicas, muitas
delas em formato epistolar, não desilude quem já conhece o autor e tem a
capacidade de surpreender quem ainda não o conhece.
Mazagran, bebida típica do Maghreb e
composta por café forte, limão, açúcar e água gasosa, é um estímulo para a
conversa entre convivas. É um pretexto para a partilha de histórias. A bebida
também leva, segundo o escritor, um pouco de conhaque quando o profeta está
distraído. Este tipo de irreverência está presente nos 104 textos que
constituem este livro.
“ Além disso, devo dizer que na tua idade - vais fazer dezasseis? - Não há nada de alarmante em querer liquidar os pais. Eu próprio comecei a «matá-los» quando tinha uns doze anos e, curiosamente, também por causa da Páscoa” Pág. 21
“ Além disso, devo dizer que na tua idade - vais fazer dezasseis? - Não há nada de alarmante em querer liquidar os pais. Eu próprio comecei a «matá-los» quando tinha uns doze anos e, curiosamente, também por causa da Páscoa” Pág. 21
Nesta obra é mantido o registo sarcástico,
rabugento e sapiente que pode ser encontrado em dois livros do mesmo género
literário: “Com os Holandeses” e “Tempo Contado” (Grande Prémio de Literatura
Biográfica APE/CM Castelo Branco 2010/2011).
O trabalho sobre a linguagem é uma
característica que, pela constância tanto em ficção como em não-ficção, dota a
obra de Rentes de Carvalho de homogeneidade e notável qualidade.
Em
“Mazagran…”, Rentes de Carvalho consegue envolver o leitor da mesma forma
que conseguiu em “Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia” (narrativas curtas),
“O Rebate” (romance), ou em “Com os Holandeses” (Crónicas).
As suas memórias são salvas
do esquecimento e formalizadas na prosa que, por ter um ritmo próprio, se
identifica como criação de Rentes de Carvalho. O contexto social mantém-se,
principalmente, na Holanda, Portugal e Brasil.
Na crónica “O prazer da viagem”, o autor
relaciona o tamanho do mundo com a velocidade com que um indivíduo o consegue
percorrer. As viagens longas são cada vez menos viáveis na contemporaneidade.
Essa redução de velocidade influencia a noção de distância, reduz a
imprevisibilidade e tem, consequentemente, importância na experiência
individual e respectiva rememoração.
A viagem, como suspensão de uma realidade para a vivência de uma outra, torna-se mais curta e mais formatada.
A viagem, como suspensão de uma realidade para a vivência de uma outra, torna-se mais curta e mais formatada.
Em “Diários” o escritor confronta-se com o
seu passado, quando analisa a evolução da sua consciência ao longo do tempo. O
medo do ridículo e a difícil dialéctica entre o “eu” presente e os “eus” que
foram desaparecendo, em “mortes” sucessivas, estão espelhados nas páginas desta
crónica.
“O diário que recebia os meus segredos, o
confidente silencioso e discreto, era afinal o mais cruel dos espelhos: apenas
capaz de reflectir a imagem incorrigível do passado (...) O que verdadeiramente
me dita urgência, porém, é o temor de que um acaso maléfico - a morte súbita, a
paralisia - coloque o meu «espelho» em mãos alheias. Que outros vejam
reflectidas nele as mil imagens que quero esquecer e que, antes de poder fazer
em paz o enterro do meu velho «eu», alguém o transforme em divertimento de
praça pública” Pág. 173
O autor não está camuflado pela ficção.
O texto “Para Romário de Souza Faria”, o
futebolista, é demonstrativo da mordacidade que a escrita de Rentes de Carvalho
pode alcançar.
“À semelhança daquele escritor que, quando lhe perguntaram o que é que ele pensava da literatura, respondeu: « Eu sou a literatura!», você com certeza sente que é o futebol” Pág.284
“À semelhança daquele escritor que, quando lhe perguntaram o que é que ele pensava da literatura, respondeu: « Eu sou a literatura!», você com certeza sente que é o futebol” Pág.284
Todos os textos de “Mazagran - recordações
& outras fantasias”, apesar de algumas inevitáveis oscilações, são dignos
da qualidade com que o escritor já habituou os leitores em Portugal.
Outrora conhecido essencialmente na Holanda, Rentes de Carvalho já conquistou o “espaço” na Literatura Portuguesa compatível com a excelência literária dos seus textos.
Outrora conhecido essencialmente na Holanda, Rentes de Carvalho já conquistou o “espaço” na Literatura Portuguesa compatível com a excelência literária dos seus textos.
Mário Rufino
Mariorufino.textos@gmail.com
Mazagran - Recordações & outras fantasias by José Rentes de Carvalho
My rating: 3 of 5 stars
O meu texto, para o diário Digital sobre "Mazagran - Recordações e outras fantasias"
http://oplanetalivro.blogspot.pt/2012...
3 estrelas em comparação com livros mais importantes na bibliografia do autor. Dentro do género - crónicas- vale mais. É um grande escritor
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O meu texto, para o diário Digital sobre "Mazagran - Recordações e outras fantasias"
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