Bem-vindos ao Inferno...
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=587315
“A
Ilha de Caribou”, editado pela Ahab Edições, é a felicidade cercada e dominada
pelo desespero.
O
dilema da morte, principalmente do suicídio, a degradação emocional e a
influência depressiva do Alasca continuam muito presentes na motivação criativa
de David Vann, autor do aclamado “ Ilha de Sukkwan”.
Em
“A Ilha de Caribou”, o autor debate-se com esses temas tanto através da análise
individual como matrimonial entre Gary e Irene, pais de Rhoda e Mark.
Gary
e Irene, presos num casamento de décadas em que ambos não são felizes, vão
construir uma cabana numa ilha.
A viagem de barco através de um lago sob crescente intempérie invernal e a construção da cabana num local isolado são elementos metafóricos da relação entre os dois. A força motriz da mudança é a vontade Gary e esta não coincide com o desejo de sua mulher.
A viagem de barco através de um lago sob crescente intempérie invernal e a construção da cabana num local isolado são elementos metafóricos da relação entre os dois. A força motriz da mudança é a vontade Gary e esta não coincide com o desejo de sua mulher.
A deslocação para uma casa nova é a derradeira
tentativa, inglória, de edificação de uma nova vida. Ela sabe isso. Mas a
fantasia (Alasca idealizado, cabana) não se conjuga com a realidade (Alasca
real, casamento). O tempo passado não pode ser recuperado. O caminho até
chegarem a esta conclusão é doloroso, descendente, e demonstrativo de como as
relações podem ser destrutivas.
Num jogo de ganhos e perdas, de avanços e recuos, a esperança ausenta-se. Enquanto ele foge de si mesmo, da sua consciência, ela tem muito medo da solidão. E o Medo é a palavra-chave deste romance. Sentimo-lo da primeira à última página.
O medo está em Rhoda perante a condição da mãe, está em Irene perante a falência do casamento e está, como sempre esteve, em Gary pela possibilidade de não cumprir com o que ele, individualmente, idealizou para si.
Devido à estrutura narrativa fundamentada na alternância entre vários focos, o leitor tem a possibilidade de acompanhar outras personagens (Monique, Carl…), sendo Rhoda um elemento essencial na narrativa. Ao observarmos os seus medos, anseios e ilusões em relação a si própria e à relação com Jim, seu namorado, torna-se evidente o paralelismo com os seus pais. Ela encontra-se na encruzilhada onde a mãe esteve há muitos anos: o casamento.
Num jogo de ganhos e perdas, de avanços e recuos, a esperança ausenta-se. Enquanto ele foge de si mesmo, da sua consciência, ela tem muito medo da solidão. E o Medo é a palavra-chave deste romance. Sentimo-lo da primeira à última página.
O medo está em Rhoda perante a condição da mãe, está em Irene perante a falência do casamento e está, como sempre esteve, em Gary pela possibilidade de não cumprir com o que ele, individualmente, idealizou para si.
Devido à estrutura narrativa fundamentada na alternância entre vários focos, o leitor tem a possibilidade de acompanhar outras personagens (Monique, Carl…), sendo Rhoda um elemento essencial na narrativa. Ao observarmos os seus medos, anseios e ilusões em relação a si própria e à relação com Jim, seu namorado, torna-se evidente o paralelismo com os seus pais. Ela encontra-se na encruzilhada onde a mãe esteve há muitos anos: o casamento.
“Era o princípio do fim
para Rhoda, a sua vida oferecida e desperdiçada com um homem que não a amava.
Era o que iria acontecer, uma repetição cruel da vida de Irene (…)” Pág. 253
As
relações afectivas enfrentam a total degradação e o leitor é confrontado com a
possível partilha de características emocionais que, pressionadas pela
inospitalidade do local, levam a um comportamento similar.
As
estranhas dores de dor de cabeça, que começaram no primeiro dia da construção
da cabana, vão debilitando cada vez mais Irene e diminuindo a reduzida
tolerância do marido. As dores controlam-na. E ela recorda-se, constantemente, do
dia em que, ainda criança, entrou em casa e viu a sua mãe enforcada. A incredulidade
de outrora perante tal acto esmorece, lentamente…
O
Inverno chega, rigoroso, a cabana está quase terminada e o desenlace
adivinha-se.
David Vann, apesar da complexidade estrutural, evita a redundância e potencia o drama através de uma eficaz economia interna. Desta forma, apresenta uma obra à qual o leitor não fica indiferente.
David Vann, apesar da complexidade estrutural, evita a redundância e potencia o drama através de uma eficaz economia interna. Desta forma, apresenta uma obra à qual o leitor não fica indiferente.
“A
Ilha de Caribou” é um lugar habitado pelo medo, ilusão, desilusão e dor.
Mário Rufino
mariorufino.textos@gmail.com
Mário Rufino
mariorufino.textos@gmail.com
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Leonor