“Encontro à Beira-Rio”
Christopher
Isherwood
Isherwood
convida-nos, em “Encontro à Beira-Rio”,
a observar o jogo de máscaras que ocorre durante o caminho de autodescoberta
dos irmãos Patrick e Oliver.
A
comunicação epistolar entre várias personagens permite-nos observar a condição
de emissor e receptor dos dois irmãos, mas deduzir, somente, as possíveis
reacções da mãe, mulher e amante de Patrick (irmão mais velho). Cabe ao leitor
preencher as lacunas propositadamente deixadas pelo autor ao não dotar outras
personagens de “voz” própria.
Apesar da diferença entre Oliver e o seu irmão, o caminho tem um fim comum, embora não declarado no primogénito: o autoconhecimento/ a auto-aceitação.
Oliver, visto pela sua família como um eterno inquieto, é seduzido a evoluir espiritualmente através de um percurso distinto do esperado na sociedade ocidental. Ao optar por uma educação ou formação classicista de Mestre-discípulo, dentro do hinduísmo, ele contraria a educação modular e complementar imposta pela contemporaneidade. A renúncia do “Ego” e, em consequência, do prazer físico, contrasta com a filosofia hedonista do seu irmão. A clivagem entre filosofias e respectivas condutas de ambos revela os obstáculos num caminho que, objectivamente, leva ao conhecimento do “self” e do respectivo relacionamento com a sociedade. O autor expõe, desta forma, a complexidade em si existente. Patrick e Oliver são manifestações, em certo grau, do seu próprio debate emocional e intelectual.
Apesar da diferença entre Oliver e o seu irmão, o caminho tem um fim comum, embora não declarado no primogénito: o autoconhecimento/ a auto-aceitação.
Oliver, visto pela sua família como um eterno inquieto, é seduzido a evoluir espiritualmente através de um percurso distinto do esperado na sociedade ocidental. Ao optar por uma educação ou formação classicista de Mestre-discípulo, dentro do hinduísmo, ele contraria a educação modular e complementar imposta pela contemporaneidade. A renúncia do “Ego” e, em consequência, do prazer físico, contrasta com a filosofia hedonista do seu irmão. A clivagem entre filosofias e respectivas condutas de ambos revela os obstáculos num caminho que, objectivamente, leva ao conhecimento do “self” e do respectivo relacionamento com a sociedade. O autor expõe, desta forma, a complexidade em si existente. Patrick e Oliver são manifestações, em certo grau, do seu próprio debate emocional e intelectual.
“Fujo de me comportar
como Patrick, digo para mim mesmo que o seu comportamento é o mal, retiro-me à
pressa para aquela triste e farisaica parte de mim que nada tem a ver com ele,
é só minha, e congelo as ligações entre nós com o ódio. Patrick pode
perturbar-me terrivelmente, porque pode fazer-me pôr em questão a forma como
levo a minha vida” pág. 104
O
que talvez seja o mais surpreendente é a manipulação do expectável e a
confluição de diferentes posturas numa posição epicurista da vida.
Através
de cartas e também, no caso de Oliver, de um diário conseguimos diagnosticar a
precária construção emocional de ambos. Conforme o destinatário da mensagem
escrita, a visão sobre o mesmo facto diverge e assiste-se à adaptação contraditória
de perspectivas e emoções por parte da mesma pessoa.
A
distância cínica da visão ocidental sobre o misticismo oriental, tão visível na
perspectiva de Patrick, é prenunciadora da secundarização a que esta obra foi
sujeita.
Através
de uma estrutura narrativa simples, assente em duas vozes e sempre apresentadas
como “eu narrativo”, Isherwood expressou em “Encontro
à Beira-Rio”, sua última obra, as próprias convicções e dilemas emocionais
e intelectuais.
Mário Rufino
mariorufino.textos@gmail.com
Mário Rufino
mariorufino.textos@gmail.com
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